Guernica

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Quem sou eu

Santa Maria, RS, Brazil
Um sujeito inquieto com um mundo que não aceita ser como ele imagina. E ainda bem que é assim...

Antigo Hospital Universitário de Santa Maria

Antigo Hospital Universitário de Santa Maria
A construção, à rua Floriano Peixoto, iniciou em 1959. Foi inaugurado em 29 de abril de 1970, com o início das atividades dos Serviços de Ginecologia e Obstetrícia, Pediatria e Puericultura

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Pulando sapata na faixa de segurança!

Por vezes, pequenos detalhes passam completamente despercebidos em nossa vida. Não observamos um gesto, uma fala, um pedido de ajuda, uma reclamação e, no ostracismo das ausências, perdemos um pouco da vida a cada dia. Pois, hoje pela manhã percebi um desses belos detalhes. Ao ir para o trabalho, na movimentada RS 287, palco de tensões contínuas e até cenas trágicas, o que nos faz vestir uma armadura emocional a cada vez que iniciamos a travessia, avistei uma senhora no acostamento, à beira da faixa de segurança. Pegava pela mão uma menina de uns quatro anos. No som do meu carro, tocava, entre tantas coisas que escuto, um agressivo heavy metal do Motörhead, The Ace Of Spades – para quem conhece sabe do que falo. Liguei os alertas do carro, diminuí a velocidade e fui parando aos poucos. O trânsito todo acompanhou a pausa e deu-se a imobilidade. Pude ver o ar de contentamento da senhora, ao mesmo tempo que apertava a mão da menina para que caminhasse. Eis que, o inusitado aconteceu. A criança passou a pular lentamente uma a uma as listras da faixa de segurança, como se estivesse numa pracinha de brinquedos pulando amarelinha – ou sapata para os mais antigos – causando um inevitável riso. Por um instante imergi no que via e imaginei a cena ao som de My Girl, The Temptations. Aqueles segundos pareceram intermináveis e sufocaram a metaleira dentro do meu carro. A carinha da menina levava a inocência marota dos anjinhos de Rafael Sanzio e um sorrisinho sapeca próprio da idade. E o trânsito parado. Um pulinho atrás do outro e a travessia continuou sob o olhar atento de todos nos carros, no ônibus lotado, nos dois sentidos. Todos nós, apressados motoristas, esperando ela chegar “no céu”. Naquele instante me dei conta de que é possível conviver educadamente, relaxar e dar espaço para a contemplação. Um agressivo heavy metal é tão audível quanto uma revigorante e doce balada dos anos 60. Trânsito não é lugar de brincar, todos sabemos, não dá para sair pulando sapata em tudo que é faixa de segurança, mas como dizer que isso não é belo, como querer dar um “puxão no bracinho” e acabar com a beleza do momento. Podemos ter cuidado com a vida, com o trânsito, com as crianças, ouvir música alta, contemplar. Educar para a vida é educar para conviver, observar as regras, apreciar detalhes, ter paixão e viver momentos de prazer. Um pouco de Apolo, um pouco de Dionísio e a vida agradece. Fim da pausa, ... The only thing you see, you know It's gonna be, The Ace Of Spades, The Ace Of Spades...