Guernica

Guernica

Quem sou eu

Santa Maria, RS, Brazil
Um sujeito inquieto com um mundo que não aceita ser como ele imagina. E ainda bem que é assim...

Antigo Hospital Universitário de Santa Maria

Antigo Hospital Universitário de Santa Maria
A construção, à rua Floriano Peixoto, iniciou em 1959. Foi inaugurado em 29 de abril de 1970, com o início das atividades dos Serviços de Ginecologia e Obstetrícia, Pediatria e Puericultura

domingo, 27 de janeiro de 2013

O beijo da morte

Na madrugada de hoje ela veio nos visitar. Seu beijo triste entorpeceu nossos sentidos, levou sonhos, destruiu vidas, secou fontes. Minuto após minuto consumiu-nos o fôlego e imolou-nos o coração que sempre espera por um beijo, mas um beijo de carinho, um beijo de amor, um beijo de vida.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Pulando sapata na faixa de segurança!

Por vezes, pequenos detalhes passam completamente despercebidos em nossa vida. Não observamos um gesto, uma fala, um pedido de ajuda, uma reclamação e, no ostracismo das ausências, perdemos um pouco da vida a cada dia. Pois, hoje pela manhã percebi um desses belos detalhes. Ao ir para o trabalho, na movimentada RS 287, palco de tensões contínuas e até cenas trágicas, o que nos faz vestir uma armadura emocional a cada vez que iniciamos a travessia, avistei uma senhora no acostamento, à beira da faixa de segurança. Pegava pela mão uma menina de uns quatro anos. No som do meu carro, tocava, entre tantas coisas que escuto, um agressivo heavy metal do Motörhead, The Ace Of Spades – para quem conhece sabe do que falo. Liguei os alertas do carro, diminuí a velocidade e fui parando aos poucos. O trânsito todo acompanhou a pausa e deu-se a imobilidade. Pude ver o ar de contentamento da senhora, ao mesmo tempo que apertava a mão da menina para que caminhasse. Eis que, o inusitado aconteceu. A criança passou a pular lentamente uma a uma as listras da faixa de segurança, como se estivesse numa pracinha de brinquedos pulando amarelinha – ou sapata para os mais antigos – causando um inevitável riso. Por um instante imergi no que via e imaginei a cena ao som de My Girl, The Temptations. Aqueles segundos pareceram intermináveis e sufocaram a metaleira dentro do meu carro. A carinha da menina levava a inocência marota dos anjinhos de Rafael Sanzio e um sorrisinho sapeca próprio da idade. E o trânsito parado. Um pulinho atrás do outro e a travessia continuou sob o olhar atento de todos nos carros, no ônibus lotado, nos dois sentidos. Todos nós, apressados motoristas, esperando ela chegar “no céu”. Naquele instante me dei conta de que é possível conviver educadamente, relaxar e dar espaço para a contemplação. Um agressivo heavy metal é tão audível quanto uma revigorante e doce balada dos anos 60. Trânsito não é lugar de brincar, todos sabemos, não dá para sair pulando sapata em tudo que é faixa de segurança, mas como dizer que isso não é belo, como querer dar um “puxão no bracinho” e acabar com a beleza do momento. Podemos ter cuidado com a vida, com o trânsito, com as crianças, ouvir música alta, contemplar. Educar para a vida é educar para conviver, observar as regras, apreciar detalhes, ter paixão e viver momentos de prazer. Um pouco de Apolo, um pouco de Dionísio e a vida agradece. Fim da pausa, ... The only thing you see, you know It's gonna be, The Ace Of Spades, The Ace Of Spades...

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

La lucha continua...

"Hay hombres que luchan un dia y son buenos
Hay otros que luchan um año y son mejores
Hay quienes luchan muchos años y son muy buenos
Pero hay los que luchan toda la vida
Esos son los imprescindibles"
(Bertolt Brecht)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Bolicho

Passam alguns minutos da meia-noite e estou num bar na rodoviária da gélida madrugada de Porto Alegre. As percepções são estranhas. Três garçons gritões encenam brincadeiras com um velho taxista mais gritão ainda. Falam de suas vidas, de outros, de tudo e de todos, contam piadas e exorcizam o tempo que deve passar. Nas prateleiras acúmulo de salgados empedrecidos pelas horas, nas paredes combinações demasiado exóticas de suportes com caixas de ovos empilhadas ao lado de chás de várias ervas, isqueiros, bananas, maças, laranjas, potes de massa instantânea, coisas de todo o gênero. Uma panela ao fogo esquenta uma dobradinha feita de manhã. O cheiro dos temperos mistura-se com a fumaça do cigarro que defuma o ambiente. Seguem os gritos e as piadas. Outros clientes entram, olham meio assustados, pegam algo e saem. Alguns, menos afoitos, ficam e se incorporam à cena. Doces velhos e uns pacotes de bolacha cercam a caixa registradora e um sonolento atendente. Ao fundo, a TV meio triste resmunga um programa sem importância, ninguém olha para ela. O Bar da Rodoviária da Capital do Gaúchos imita um bolicho qualquer de qualquer rodoviária do interior do estado. E é pra lá que eu vou...

domingo, 27 de junho de 2010

Que inteligência?

Um dia desses, ao viajar para São Paulo, cheguei ao Aeroporto Salgado Filho ainda de madrugada e só embarcaria às 08:30. Fiquei observando o movimento. Gosto de aeroportos, tem um murmurinho constante, gente transitando, embarcando, desembarcando, gente diversa, com caras familiarmente desconhecidas – parecem conhecidos de outro dia. Acredito que deve ser porque mesmo nos achando muito diferentes talvez nos pareçamos muito uns com os outros.

Enquanto tomava um bom café, li e ouvi as notícias do início da manhã. Em algum canto do mundo muitos morreram, muitos estão feridos, uma quadrilha de traficantes de droga foi desbaratada no litoral sul do estado e havia ficado muito frio. Falava-se em 1,4°C em Quarai, "logo ali" na fronteira com o Uruguai. Também era mancheteada em todas as capas a “fabulosa” vitória da Seleção Brasileira de Futebol: 3 x 1 sobre a Costa do Marfim na Copa da África do Sul. Bem melhor que o jogo anterior contra a Coréia do Norte (2 x 1) mas nada de empolgação exagerada. Acredito ser um bom caminho.

Naquele momento ocorreu-me algo interessante. Lembrei de uma conversa dias atrás na qual se colocava em cheque a legitimidade do ganho de determinados jogadores de futebol, mais especificamente os astros da bola. Era dito que o triunfo financeiro de pessoas com “tão baixa escolaridade” era antagônico ao amargo suor diário de tantas outras com 3 a 4 vezes mais anos de educação formal. Os ditos letrados, portadores de diplomas universitários têm, em geral, bem pior remuneração que os não letrados jogadores de futebol mais famosos. Considerando que reconhecimento social está muito associado com ganho financeiro, a relação direta é que consideramos os jogadores menos aptos a serem mais reconhecidos socialmente e, portanto, melhor remunerados. Em boa medida, certamente, esse termo resulta da ligação do jogador com baixa escolaridade a alguém menos inteligente e essa era a tônica da conversa. Os “letrados” ou os que têm profissões definidas por cursos de especialização, nem que seja de nível médio, seriam, em tese, mais inteligentes e também mais dotados a serem mais reconhecidos socialmente e melhor remunerados.

Então fica clara a ligação entre inteligência e reconhecimento social e, na mesma linha, remuneração financeira. Incomoda a idéia de um jogador de futebol semi-analfabeto, na linguagem de senso comum, ganhar fortunas enquanto nós, alfabetizados, escolarizados, letrados e especializados, ganharmos um salário infimamente inferior.

Independentemente de qualquer julgamento de valor, se deve ou não remunerar mais ou menos os diplomados e os jogadores – isso é muito mais fruto de um sistema capitalista que privilegia os resultados econômicos, a viabilidade financeira e o retorno de investimento, o pensamento que nos move a minimizar a importância dos jogadores de futebol em nosso mundo tem a ver com a importância que relegamos à sua atividade.

Hierarquicamente, no pensamento dominante e sem uma reflexão mais apurada, a habilidade para a prática esportiva, no caso o futebol, é entendida como inferior à educação formal. Mais do que isso, o bom rendimento na educação formal é sinônimo de inteligência. Dessa forma é desconsiderado um dos pressupostos mais importantes no meio educacional na atualidade, a teoria das inteligências múltiplas – e lá se vão quase 30 anos desde a sua formulação por Gardner.

De acordo com Gardner, os seres humanos são dotados de inteligências variadas, cada pessoa desenvolvendo mais uma ou umas do que as outras. Teríamos inteligências modulares. As inteligências seriam potenciais que poderiam ser ativados ou não, de acordo com o contexto social e cultural de cada indivíduo, no qual as oportunidades oferecidas a ele, os valores e as decisões pessoais e de seus “cuidadores” cumprem papel fundamental na ativação desses potenciais. Nessas inteligências são incluídos vários tipos: a lingüística, lógico-matemática, a espacial, interpessoal (liderança), intrapessoal, musical e corporal-cinestésica (movimento) e naturalista.

Por outro lado, é necessário dizer que a inteligência humana é percebida há muito tempo pela sociedade apenas como uma revelação de saber lógico-matemático e lingüístico. Inteligência significa “ser bom em números e letras”. Jamais o senso comum associa um jogador de futebol, um artista plástico ou músico a alguém inteligente por sua prática. O jogador ou o artista plástico não podem ser inteligentes por sua prática, os doutores em medicina ou direito sim. Quando digo que sou mais inteligente que ele porque tenho diploma de curso superior estou me colocando hierarquicamente acima dele. Fica implícita também uma certa tendência a admitir-se inteligência como algo “dado”, trazido pelo nascimento, genético.

Nos jogadores de futebol poderíamos visualizar várias inteligências. Pelo menos a corporal-cinestésica, a espacial e a interpessoal são presentes em graus variáveis.

Acontece que, entre os futebolistas, como em todos os grupos, classes sociais, atividades, etnias, em ambos os sexos, existem os superdotados ou com altas habilidades e que são evidentemente mais inteligentes que os demais em alguma ou algumas áreas específicas. Ganham mais visibilidade, viram bons “produtos”. O mundo do capitalismo remunera da sua forma o que gera mais lucro e se isso significa remunerar essas inteligências não é problema dos investidores. No mundo ideal todos desejamos remuneração justa, mas isso é uma faceta do capitalismo que merece outras discussões.

Porém, o que não podemos fazer é hierarquizar inteligências segregando as que não correspondem ao mundo da formalidade acadêmica. É uma reflexão necessária e oportuna. Aliás, sobre o tema há muitas reflexões a fazer.

Bem, check-in feito, café tomado, notícias em dia, fui para São Paulo.

Referência:

GARDNER, H. The frames of mind: the theory of multiple inteligences. New York: Basic Books, 1983.

GARDNER, H. Inteligência: um conceito reformulado. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.

GUNTER, Z.C. Capacidade e talento: um programa para a escola. São Paulo: EPU, 2006.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Batalha Internacional na BR 290


NOTÍCIAS DA PROVÍNCIA


Seguindo um dos objetivos de nosso periódico, o Notícias da Província de hoje apresenta uma história muito interessante acontecida recentemente em plagas gauchas.


Na madrugada de 14 de maio um restaurante às margens da BR 290 foi palco de uma batalha descomunal. É no mínimo assim que se pode classificar o que ocorreu na longínqua localidade.

Passava um pouco das três da manhã, quando um micro-ônibus trazendo 12 torcedores do grupo autodenominado “Confraria Colorados do Coração” chegou ao restaurante legitimamente de beira de estrada. Eis que lá encontraram outro ônibus, um desses de 2 andares que transportava os torcedores do clube Estudiantes de La Plata de volta para a Argentina. Ambos vinham de Porto Alegre onde, horas antes, o Internacional havia derrotado o Estudiantes por um a zero.

Os primeiros estavam radiantes pela vitória alcançada aos 42 minutos do segundo tempo. Já os torcedores do Estudiantes estavam com “el cabezon” inchado “por uma cabeza” que terminou com os planos de triunfo de “La Brujita, Bozelli, Sosa e companhia”.

Os colorados entraram silenciosamente e de maneira respeitosa ao recinto enquanto os demais, aparentemente, preparavam-se para a saída.

De repente, ouviu-se uma discussão e um corre-corre no estacionamento. Os castelhanos haviam invadido o veículo dos colorados e surrupiado objetos de inestimável valor pessoal, que incluíam bandeiras, camisas (mantos) e jaquetas do Campeão do Mundo, aparelhos eletrônicos utilizados para a audição dos combates (radinhos de pilha), aparatos para acondicionamento de bebidas (canha) e alimentos para a viagem(isopor). Conta-se que durante a invasão amedrontaram o jovem filho indefeso de um torcedor que, apavorado, dizia “no, no, calma, no, no...” enquanto outro senhor, já bem idoso, aos murmúrios rezava pedindo clemência ao fundo do ônibus. Havia ainda um terceiro que, ou dormia sem nada perceber, ou fazia de conta que dormia.

Logo após, os que estavam dentro do restaurante, ao perceberem o tumulto, vieram em defesa. Estava formada a confusão. Os castelhanos justificaram que queriam trocar objetos, mas não convenceram. Entre empurra-empurra e dedos na cara, um colorado se identificou como policial militar e ultimou: “- Ou vocês devolvem tudo o que pegaram ou não sairão do Brasil!”. Estava dado o impasse.

Eles começaram a devolver um por um dos itens levados. Nesse momento, todos com os nervos a flor da pele, não se tinha a percepção exata de tudo que havia sido surrupiado.

Quando parecia tudo resolvido, os castelhanos reiniciaram a provocação e, como o ascender de um pavio, explodiu o confronto. Estabeleceu-se uma batalha. Socos, pontapés, vários foram ao chão. Todos ombreando madeira, cada um a seu modo, a peleja foi se desenrolando. Pedaços de pau e pedras voaram e, naturalmente, vidros estilhaçaram, faces sangraram. A pintura da cena se enegrecia. Porém, em alguns segundos, algo se tornara evidente. De dentro do ônibus argentino começava a brotar gente sem parar. Como baratas se multiplicavam à frente de todos e a superioridade numérica era aterrorizante. Havia uns 4 castelhanos para cada colorado. Porém, incrivelmente a peleja foi virando lentamente para o lado de menor número. Heroicamente, os colorados foram descendo braço e os platinos foram caindo um a um. A gritaria tomava conta e a sensação de derrota iminente se apossava de los hermanos.

Agora, o entorno já tinha um considerável número de “apreciadores” embasbacados. Até mesmo um carro da polícia era avistado, mas estranhamente os homens da lei não se aproximaram do epicentro da confusão. Ficaram ao longe na espreita. E o que parecia impossível aconteceu. Os colorados da Confraria botaram os gringos para correr. Da mesma forma que saíram do veículo, entraram de volta. Desapareceram no seu interior e viu-se o ônibus saindo em disparada.

Ao invés de se dar tudo por encerrado, o inusitado tomou forma novamente. Os colorados também entraram em seu pequeno veículo e se puseram a perseguir “los não tão hermanos”. Assim o fizeram até perderem-nos de vista. Com seu potente veículo sumiram na escuridão da madrugada em direção ao Prata, de onde disseram os colorados, nunca deviam ter saído.

Como requintado troféu de batalha, os colorados exibiram a bandeira arrancada dos adversários.

Tudo isso foi narrado por um “correntino” que não quis se identificar e por populares que assistiram ao incidente. Nossa reportagem voltou ao local 48 horas mais tarde do malfadado acontecimento e, apesar de poucos concordarem em falar, as pessoas estavam estarrecidas com o fato. Contudo, conseguimos perceber que algo heróico havia acontecido.

Foi a noite em que os 12 Colorados do Coração, após verem seu time vencer o Estudiantes na capital gaucha, impuseram nova e vultuosa derrota a mais de 40 argentinos os quais jamais esquecerão que em terras vermelhas, onde o sangue corre veloz nas veias dos maragatos, é melhor ouvir um tango em silêncio do que dançar um vanerão descompassado .

terça-feira, 18 de maio de 2010

Convocação para a Copa 2010

Nos últimos dias, todo o Brasil está discutindo e dando seus palpites sobre um de seus assuntos favoritos, a Seleção Brasileira. Às 13:00 do dia 11 de maio, do Hotel Windsor, no Rio de Janeiro, foi divulgada a lista do técnico Dunga (Carlos Caetano Bledorn Verri) com os 23 jogadores convocados para a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul. Gerou um misto de indignação e compreensão, revolta e apoio, discordância e concordância.

A lista com os 23 nomes é a seguinte:

Goleiros: Júlio Cesar, Doni e Gomes;
Laterais: Maicon, Daniel Alves, Michel Bastos e Gilberto;
Zagueiros: Lúcio, Juan, Thiago Silva e Luizão;
Meio-campistas: Gilberto Silva, Felipe Melo, Josué, Ramires, Elano, Kaká, Kleberson e Júlio Baptista;
Atacantes: Robinho, Luís Fabiano, Nilmar e Grafite.

À noite foi publicada uma lista complementar de 7 nomes: Alex (zagueiro), Sandro (meio-campista), Paulo Henrique Ganso (meio-campista), Ronaldinho Gaúcho (meio-campista), Diego Tardelli (atacante) e Carlos Eduardo (atacante).

A primeira lista compreende os jogadores que serão inscritos em 1º de junho. A segunda contém os jogadores que poderão substituir os da primeira em caso de lesão até a inscrição. De 1º de junho até 24 horas antes do primeiro jogo na Copa, os jogadores então inscritos poderão ser substituídos por qualquer jogador brasileiro, não necessariamente presente na lista de 7 nomes.

A convocação foi seguida de uma longa entrevista coletiva em que se debateram repórteres, técnico e auxiliar técnico (Jorginho) em muita discussão, por vezes intempestiva. Mas isso será tema de outra conversa.